— Mostra lá. — O assédio tinha começado na mesa principal ao pé dos rissóis de camarão. Tinham chegado ao momento comum a qualquer festa de casamento em que os níveis etílicos começam a toldar as ideias dos convivas e se começa a sentir uma disposição invulgar para fazer coisas que habitualmente não se fariam. O que não era o caso, pois há pelo menos seis meses que a feliz noiva, sentada algures num canto a esvaziar a terceira garrafa de champanhe com as amigas, dividia a posição de “mulher da vida dele” com a proprietária do melhor par de mamas do salão. — Mostra-mas. Que mal tem? Prometo que não lhes toco.
— Não. Já chega.
— Porquê? Não mudou nada, — disse ele, testando a sorte.
— Achas que não? — respondeu-lhe ela, apontando com um croquete para o casal de noivos em miniatura que ornamentava o cimo do grande bolo ao centro da mesa. Claramente, a sorte não estava para aí virada.
Mas a retórica humana não deve nem pode ser menosprezada. Muito menos a retórica masculina de um recém-casado algo renitente, ansioso por saborear um último acepipe da já saudosa vida de solteiro e a primeira de muitas pequenas infidelidades conjugais.
Ela fez-lhe sinal para a seguir até uma das casas de banho e lá foi, ajeitando o decote generoso com um sorriso indecifrável.
Ele esperou, mastigou uma chamuça, certificou-se de que a legítima, já quase inconsciente, continuava ao canto com a garrafa de champanhe e as amigas e seguiu a que era, duplamente, a “outra.”
A casa de banho estava deserta. Entrou e trancou a porta por dentro. A luz ténue criava ambiente. Ela, de costas para a porta, olhava-se no espelho. — Então? — disse ele com impaciência.
— Então? — repetiu ela, voltando-se. Tinha as mamas expostas num sinal de arrojo que muito o entusiasmou. Já as tinha visto muitas vezes mas era sempre uma emoção comparável à da primeira. Se fosse necessário classificá-las por tamanho, estariam mais para o grande do que para o pequeno mas sem exageros. Tinha mamilos rosados e espetados na sua direcção. Talvez pelo frio. Talvez por outra coisa qualquer.
— Continuam lindas, — cumprimentou ele com sinceridade. — Não tinha muitas esperanças de as voltar a ver. Pensei que tivesses ficado magoada com isto do casamento.
Ela não disse nada. Limitou-se a arquear-lhe uma sobrancelha e a sorrir com um canto da boca. Ele prosseguiu.
— Posso?
— Força. — Foi a resposta.
Colocou as mãos abertas sobre cada uma e apertou muito ligeiramente.
— Que maravilha. — Sentia-lhe uma viscosidade invulgar na pele. — Puseste creme?
— Creme? Não, — disse ela, mostrando-lhe o tubo de cola.
Lá fora, ouviu-se saltar a rolha de mais uma garrafa. A diversão ainda agora tinha começado.