Fátima, Futebol e Fufas

Abram alas para o Organasmo!

16.1.07

Querido Pai Natal


Prometo portar-me bem durante o ano todo. Ficas automaticamente perdoado por todas as prendas falhadas de todos os Natais. Sei que não deve ser fácil mas é por isso que te estou a escrever com 12 meses de avanço. Não precisam de embrulho. Trato de pôr um aquecedor junto ao pinheiro. Obrigado.

9.1.07

Classificados 2


Mulher procura homem impotente para relacionamento sério. Deve ser sensível e educado, bem-posto na vida e inteligente q.b.

Importante: Deve ter amigo viril e danado para a brincadeira que vá muitas vezes lá a casa.

4.1.07

Beleza a quanto obrigas



Após anos de procura, tinha finalmente o emprego com que sempre sonhara. Era a mais importante agência de publicidade do país com uma bolsa de clientes invejável tanto a nível nacional como no estrangeiro. E dava-se por satisfeita por exigirem tanto dela. Gostava de desafios e sempre tivera consciência de que a mediocridade de ambições das aventuras profissionais anteriores não aproveitava o seu potencial. Mas havia um outro lado. Com a excepção dos três sócios-gerentes, todas as colegas de trabalho eram mulheres. Até aí, nada de especialmente intimidante. Mas eram todas mulheres perfeitas, parecendo ter saltado das páginas de uma revista de moda e fazendo parecer banais até as deslumbrantes modelos profissionais contratadas para esta ou aquela campanha. Pessoalmente, ainda que não se achasse de todo feia ou deselegante, não conseguia elevar-se acima de uma beleza perfeitamente normal e sem motivo para deixar alguém de boca aberta (como lhes sucedia a elas com frequência embaraçosa).

Para piorar tudo, a festa de fim de ano da empresa tinha sido marcada para a piscina de um dos gerentes, aproveitando-se o sol e a temperatura amena invulgar naquele e em todos os invernos. Receando os olhares e comentários maldosos de que, certamente, as suas muito humanas pequenas imperfeições seriam alvo, embarcou numa odisseia frenética de embelezamento à força que envolveu penosas dietas de fome, programas de exercício dignos de um pugilista profissional e passar as noites embrulhada até ao pescoço em película aderente depois de se ter besuntado com uma mistela supostamente milagrosa à base de abacate moído, canela e concentrado de esperma de rã. Tirou duas semanas de férias e, em vez de estar numa praia das Caraíbas, como dissera a quem lhe perguntara, submeteu-se a duas lipoaspirações, pequenas cirurgias de correcção cosmética, uma depilação integral a laser e sessões extensas de solário que lhe dariam um bronzeado digno do sol de Barbados. O toque de mestre foi a compra de um bikini de alta-costura que achou num catálogo online e que lhe foi entregue quatro dias depois da compra numa entrega expresso paga a peso de ouro. Era completamente vermelho, sem cores ou enfeites adicionais mas, quando vestido, fazia realçar o seu corpo remodelado como se tivesse sido esse o único propósito da sua criação.

Passou os últimos dias antes da festa a olhá-lo estendido sobre uma cadeira. Imaginava-se dentro dele e imaginava os olhares de admiração ou inveja que atrairia. Apenas assim conseguia manter a determinação e continuar a alimentar-se exclusivamente à base de alface e iogurte magro sem sabor.

No dia fatídico, vestiu roupa escolhida com o máximo cuidado para parecer casual e apresentou-se no local combinado com um encantador atraso de meia hora (que conseguiu, dando três voltas ao quarteirão). As bebidas foram servidas, atreveu-se a mordiscar um acepipe de camarão contendo a vontade de devorar a travessa inteira e aproximou-se da piscina onde as beldades já estavam devidamente expostas aos elementos e aos olhares gulosos em redor.

Levou a mão aos botões que mantinham no sítio devido o vestido de linho branco e foi abrindo um a um, confiando que os sacrifícios dos últimos meses lhe evitariam o embaraço. Sorriu, saboreando o seu momento de triunfo e, quando o vestido caiu ao chão, ouviu de olhos fechados o grito de surpresa conjunto que a rodeou. O fabuloso bikini vermelho tinha cumprido o seu destino, mesmo que continuasse pousado sobre a cadeira onde, por esquecimento e com a pressa, o havia deixado.