27.12.06
19.12.06
Figurinhas
Nuno Eiró. Apresentador de televisão com talento que escapa a classificações. Distinguiu-se entre os colegas por raramente escrever o nome completo com erros, mesmo com um complicado acento no seu rotundo O. Consegue imitar alguns trejeitos de Herman José (humorista português muito popular nos anos 80 e 90 e já falecido) com perfeição quase xeroxiana, contribuindo muito com os seus esgares, gestos e boquinhas para a boa disposição dos colegas e amigos. Entre os seus projectos para o futuro contam-se a inauguração de uma boutique na Baixa Pombalina, especializada em meias coloridas e adereços de moda para homem, e a conclusão do curso superior de Engenharia Electrotécnica, que interrompeu por motivos profissionais. Fora do horário de expediente, diz-se que não resiste a um mulato bem avantajado.
15.12.06
Violação de privacidade
Desde que um ex-namorado rancoroso decidira enviar a quem com ela privava fotografias pornográficas tiradas numa noite bem bebida, que a sua vida se transformara num autêncito tormento. Custava-lhe sair de casa, sabendo que os vizinhos a tinham visto nua de gatas com o rabo alçado e as unhas fincadas no lençol. Tinha de se forçar a ir trabalhar, convencendo-se de que talvez houvesse colegas que não a tivessem visto com a boca escancarada e salpicada de branco e uma expressão de prazer rebarbado na cara. E já não atendia o telefone aos amigos, nem aos mais próximos, porque não queria ter de explicar que não, aquilo até nem tinha doído assim tanto.
O tempo passou e a vergonha foi-se atenuando. Ao ponto de ser substituída por um incómodo de outra natureza. Passaram-se três meses desde que a sua faceta obscena se tornara pública e, por mais que receasse a princípio os comentários por trás das costas, os olhares, as piadinhas de mau gosto, começava agora a afligi-la ver que estes não chegavam. Todos a tratavam como sempre haviam feito. E não havia dúvidas de que tinham realmente visto as fotografias porque o email fatídico, com dois megabytes de devassidão hardcore anexados, continuava na caixa de correio electrónico geral da empresa. Que raio! Ser enxovalhada por culpa de um delírio privado era desagradável mas aquela indiferença conseguia sê-lo ainda mais. O material era chocante e não conseguia perceber como ninguém reagia. Seria possível que não o tivessem examinado com a atenção devida?
Certa noite, antes de adormecer, tomou uma decisão. No dia seguinte, a caminho do trabalho, passaria por uma loja de molduras e consultaria o catálogo. Sabia já o que oferecer pelo Natal a todos os seus conhecimentos.
11.12.06
Boca de esgoto
Era uma rapariga sóbria mas, na cama, usava linguagem que faria corar a vencedora do Torneio de Rimas Porcas das Vendedoras do Bolhão. E ele não se importava nada. Até lhe dava um gozo tremendo ouvir tamanhas obscenidades saídas de boca habitualmente tão casta e angelical fora do quarto (era o tipo de pessoa que diria "Chiça!" se deixasse cair uma bigorna em cima dos dedos dos pés).
Mas deixou de achar piada quando descobriu que havia base factual na frase "Anda cabrão, vem à tua puta" que lhe repetia com tanta frequência.
Nota: Devido a um problema técnico menor relacionado com mariquices várias do Blogger, o nome do autor de todos as entradas anteriores foi alterado. No entanto, trata-se da mesma pessoa. A esquizofrenia é uma perturbação mental que não oferece qualquer perigo quando devidamente medicada.
4.12.06
No comprimento do dever
Todas as revistas femininas que consultara às escondidas lhe diziam que o tamanho não importava (à excepção de uma ou duas que afirmavam o contrário só pelo arrojo da posição). As mulheres a quem se atrevera a perguntá-lo sorriram-lhe da almofada ao lado e disseram-lhe que não importava nada, que não se preocupasse com isso, que estava muito bem assim. Tal veemência convenceu-o do contrário. Passou anos amargurado. Começou a olhar de soslaio para colegas de ginásio, desesperado por confirmar o que já sabia e arriscando-se a que pensassem dele o pior.
Um dia, depois de ler um artigo de jornal sobre o assunto, decidiu-se a recorrer a uma cirurgia correctiva. Não lhe importava a dor, o desconforto, o medo do que pudesse correr mal. Submeteu-se à operação, que correu na perfeição e, depois de acordar da anestesia, sorriu como há muito não fazia.
No Verão seguinte, pela primeira vez desde a adolescência, pôde usar calções sem escandalizar ninguém.